Propomos uma escola infantil afro-brasileira, pois compreendemos que grande parte da nossa origem ancestral reside na diáspora africana para as Américas. Um episódio macabro e doloroso da história universal, mas que precisa ser recordado e analisado para compreendermos a condição atual da população negra no Brasil. Não se trata apenas de fazer memória e menção honrosa às nossas e aos nossos ancestrais, mas trata-se de compreendermos de onde viemos para entendemos aquilo que somos e articularmos os passos de para onde queremos ir.
Ser afro-brasileira significa valorizar a cultura afro-brasileira reconhecendo nela a mesma ou superior significância de conferimos à cultura europeia. Significa socializar a história, a produção cultural e intelectual do nosso povo em diáspora que ajudou a construir grandes sistemas epistêmicos e territorialidades, mas que, por vezes, foi pilhado e apagado da história (FREITAS, 2016). Significa pensar uma escola que problematize desde cedo a questão racial de modo a superar pela via educacional o racismo estrutural que vivemos em nossa sociedade.
Maria Felipa foi uma heroína da independência do Brasil na Bahia. Nascida na Ilha de Itaparica, descendente de africanos escravizados do Sudão, negra, marisqueira, pescadora e trabalhadora braçal, ela liderou um grupo de 200 pessoas, entre mulheres negras, indígenas tupinambás e tapuias nas batalhas contra os portugueses que atacavam a Ilha de Itaparica, a partir de 1822. Somente o grupo de Maria Felipa foi o responsável por ter queimado 40 embarcações portuguesas que estavam próximas à Ilha.
Liderando um grupo de mulheres e homens de diferentes classes e etnias, fortificou as praias com a construção de trincheiras, organizou o envio de mantimentos para o Recôncavo e as chamadas “vedetas” que eram vigias nas praias, feitas dia e noite, a fim de previnir o desembarque de tropas inimigas, além de participar ativamente de vários conflitos. Durante as batalhas, seu grupo ajudou a incendiar inúmeras embarcações: a Canhoneira Dez de Fevereiro, em 1° de outubro de 1822, na praia de Manguinhos; a Barca Constituição, em 12 de outubro de 1822, na Praia do Convento; em 7 de janeiro de 1823, liderou aproximadamente 40 mulheres na defesa das praias de Itaparica. Armadas com pexeiras e galhos de cansanção seduziram e surraram os portugueses para depois atear fogo aos barcos usando tochas feitas de palha de coco e chumbo.
Maria Felipa, como tantas outras mulheres negras, foi uma grande guerreira apagada e silenciada da história. O nosso intuito em nomear a nossa escola com a sua graça é de homenagear esta grande mulher negra que nos ensinou o valor da resistência e do combate por meio da organização do seu povo, do pensamento estratégico e quilombola.
Promover uma educação escolar, nas esferas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental (anos iniciais), pautada na socialização igualitária dos saberes sistemáticos, hegemônicos e contra-hegemônicos, visando criar as bases da alfabetização e letramento trilingue em português, inglês e LIBRAS de crianças que serão futuros adultos críticos, dispostos a atuarem na sociedade construindo um projeto histórico decolonial, coletivo e igualitário.
A Escola Afro-brasileira Maria Felipa surge em 2017 da ideia de uma mãe (nossa idealizadora Bárbara Carine), na busca por educar sua filha (Iana), uma criança negra vinda por meio de um processo de adoção, a partir de outros marcos civilizatórios. No ano de 2017 o Projeto Político Pedagógico da escola foi escrito, em 2018 estruturamos o espaço e em 2019 tivemos o primeiro ano letivo. Em 2020 Maju Passos na busca por um espaço educacional seguro e emancipador para seu filho (Ayo) se vincula ao projeto na condição de mãe e sócia.
Pensou-se em uma escola que valorizasse nossas constituições ancestrais não apenas europeias, mas que reconhecesse a forte influência ameríndia e fundamentalmente africana em nossa formação sócio-cultural. “Foi triste fazer a experiência de buscar, em meio a tantas escolas que fazem um diálogo formativo internacional, uma escola Afro-Brasileira em Salvador, a cidade mais negra do mundo fora do continente africano, e não encontrar” Relata Bárbara. Foi quando veio a ideia: se as escolas, em geral, reproduzem unicamente o padrão estético e cultural branco europeu, não queremos que nossas filhas e filhos venham a sofrer este processo de violência simbólica de terem negados seus intelectuais negros e negras no processo de formação escolar, de terem rejeitadas as suas expressões corporais, os seus sons, os seus cabelos, dentre outros. Foi pensada de fato em qual escola essa criança estudaria para que ela desenvolvesse o amor próprio e a valorização da sua ancestralidade, uma escola que compreendesse que as primeiras civilizações existentes no mundo são africanas e que, portanto, não faz sentido imaginarmos que a história do povo negro no mundo começa com o processo diaspórico que culmina na escravidão e na marginalização da negritude em diversos países, mas que nós não podemos parar por aí e que precisamos “reconstruir nosso impérios”. Infelizmente esta escola não foi encontrada e bárbara Juntamente com a comunidade escolar da Maria Felipa pautou: “se esta instituição não existe, façamos nós que ela exista!”
Vale destacar que se trata de uma escola destinada ao ensino dos conhecimentos clássicos tidos como hegemônicos e, ao mesmo tempo, de resgate e valorização dos conhecimentos de nossos e nossas ancestrais. Nesse sentido, NÃO É UM ESCOLA APENAS PARA NEGRAS E NEGROS, é uma escola para todas as crianças, pois compreendemos que crianças negras e não negras precisam conhecer a nossa constituição histórica a partir de diferentes narrativas e não apenas pela ótica do dominador. Compreender essa história propicia às crianças entenderem que não somos geneticamente superiores ou inferiores por termos um determinado tom de pele, mas que socialmente construímos hierarquizações que precisamos superá-las rumo a uma sociedade justa e igualitária.
Promover uma educação escolar, nas esferas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental (anos iniciais), pautada na socialização igualitária dos saberes sistemáticos, hegemônicos e contra-hegemônicos, visando criar as bases da alfabetização e letramento trilingue em português, inglês e LIBRAS de crianças que serão futuros adultos críticos, dispostos a atuarem na sociedade construindo um projeto histórico decolonial, coletivo e igualitário.
Promover uma educação escolar, nas esferas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental (anos iniciais), pautada na socialização igualitária dos saberes sistemáticos, hegemônicos e contra-hegemônicos, visando criar as bases da alfabetização e letramento trilingue em português, inglês e LIBRAS de crianças que serão futuros adultos críticos, dispostos a atuarem na sociedade construindo um projeto histórico decolonial, coletivo e igualitário.
Promover uma educação escolar, nas esferas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental (anos iniciais), pautada na socialização igualitária dos saberes sistemáticos, hegemônicos e contra-hegemônicos, visando criar as bases da alfabetização e letramento trilingue em português, inglês e LIBRAS de crianças que serão futuros adultos críticos, dispostos a atuarem na sociedade construindo um projeto histórico decolonial, coletivo e igualitário.